As recentes crises enfrentadas no Ministério da Saúde fragilizaram a ministra Nísia Trindade à frente da pasta. Os crescentes casos de dengue no país, o aumento de mortes de indígenas Yanomami em 2023 e a decadência dos hospitais federais no Rio de Janeiro aumentaram a pressão sobre ela, especialmente após cobranças diretas do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Por enquanto, o petista garantiu a permanência de Nísia no cargo, a fim evitar críticas sobre a demissão de mais uma mulher em seu governo – três deixaram seus cargos no ano passado: Ana Moser (Esporte), Rita Serrano (Caixa Econômica Federal) e Daniela Carneiro (Turismo). Mas a pressão sobre Nísia, por resultados e por melhor articulação política, deve continuar, segundo analistas políticos consultados pela Gazeta do Povo.
“Quando Lula concentra as cobranças sobre a Nísia de uma maneira dura, ele quer que ela peça para sair. Ele não quer carregar essa responsabilidade, embora ele tenha dado todas as condições para ela entender isso. Acredito que essa seria a maneira mais política que ele gostaria de usar para resolver essa questão", opina o cientista político Leonardo Barreto.
Durante reunião ministerial no Palácio do Planalto nesta semana, Lula a questionou sobre as crises de saúde que estouraram no país. A ministra, que também já foi presidente da Fiocruz, ainda ouviu cobranças sobre entregas dos resultados prometidos. Também vazou a informação de que Nísia chorou ao falar sobre a pressão que vem sofrendo de políticos do Centrão, que gostariam de comandar o Ministério da Saúde, um dos mais importantes da Esplanada devido ao grande montante de recursos do Orçamento que gere.
No dia seguinte à reunião com todos os ministros de governo, Lula se encontrou com Nísia no Palácio do Planalto para uma conversa bilateral. A especulação em torno da reunião era de que ela fosse demitida por Lula, o que gerou um ruído na imprensa, posteriormente descartado por Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais.
Nesta quinta-feira, em entrevista à CNN Brasil, Nísia culpou o “machismo, inclusive no campo da esquerda”, pela pressão que tem sofrido no comando da pasta e disse que tem se reunido com líderes governistas no Congresso para aumentar o diálogo com deputados, insatisfeitos com o repasse de verbas da pasta para as emendas parlamentares.
“As emendas parlamentares são bem-vindas, estamos em um momento de divulgar todos os equipamentos do PAC Saúde e eu tenho buscado me reunir com líderes da nossa base do governo, já conversei com o presidente da Comissão de Saúde, e eu acho que esse é o caminho: diálogo, mas com a estratégia de programa de governo", disse a ministra, tentando minimizar a pressão que sofre dos parlamentares do Centrão.
Por Carinne Souza (Gazeta do Povo)