Lula mancha a imagem do Brasil ao se tornar cúmplice de uma farsa: a eleição presidencial na Venezuela, marcada para 28 de julho, dia do nascimento de Hugo Chávez, mentor e perpetrador do bolivarianismo em si já mostra o parcialismo do Conselho Nacional eleitoral que inabilitou todos concorrentes que venceriam o atual mandatário. Muito coerente. Mesmo com 'propenso' compromisso firmado com adversários do regime para que haja observadores internacionais, a eleição tem as cartas marcadas para Nicolás Maduro vencer. A Justiça bolivariana, composta de aliados subservientes do atual mandatário, singelamente tirou do páreo os principais e viáveis líderes da oposição.
Neste teatro, Nicolás Maduro tem tudo para ser o candidato do bolivarianismo chavista, e “disputará” contra os que ele permita estar na cédula de votação, já que todos os principais nomes da oposição democrática estão barrados. Deste modo, apenas os muito ingênuos ou os cúmplices declarados ainda afirmam que a eleição tem alguma chance de ser justa e limpa. E o presidente Lula já se postou neste segundo grupo, dando seu aval ao teatro eleitoral previsto para daqui a alguns meses. O pior é que ele representa o Brasil internacionalmente, embora não atualmente os brasileiros que lhe dão 47% de aprovação, em queda, igualdade de desaprovação de 46% (em alta de 3%), na margem de erro do instituto Atlas (entre 2 e 5 de março).
A vergonha se passou ao lado do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que está visitando o Brasil, Lula soltou uma série de disparates sobre a eleição, com direito a comparações esdrúxulas com os pleitos brasileiros de 2018 e 2022. O petista chegou ao ponto de dizer que Maduro merece a “presunção de inocência”. “A gente não pode já começar a jogar dúvida antes das eleições acontecerem (...) nós temos que garantir a presunção de inocência até que haja as eleições para que a gente possa julgar se elas foram democráticas”, verbalizou Lula que já pediu o mesmo benefício a Vladimir Putin após a suspeitíssima morte de Alexei Navalny, mas que por outro lado é cheio de certezas quando se trata de Israel, que para Lula é causador de um segundo Holocausto; ou do casal Mantovani, chamado pelo presidente de “animais selvagens”, “canalhas” que “não merecem respeito”. Para a oposição, Lula só tem a oferecer sarcasmo e advertências típicas de quem já dá como certa a má intenção.
A péssima gestão de maduro já gerou êxodo de 6 milhões de venezuelanos e espalhou a fome por um país outrora arrumado acusa os oposicionistas de participar de uma “conspiração” que causou “o bloqueio criminoso da República Bolivariana da Venezuela, bem como a desavergonhada desapropriação de empresas e riquezas do povo venezuelano no exterior, com a cumplicidade de governos corruptos”.
Detalhando melhor a situação, pode-se dizer que na vontade legitimação da eleição geral da Venezuela, cuja viabilidade mantém-se incerta, Lula voltou a relativizar o regime 'duro' de seu amigo Nicolás Maduro. O presidente brasileiro quer um voto de confiança para um regime acusado pela comunidade internacional de não apenas fraudar resultados para permanecer no poder, mas também de perseguir sistematicamente os integrantes da oposição. Líderes da oposição como Juan Guaidó, Leopoldo López, Henrique Caprilles e María Corina Machado são perseguidos como verdadeiros inimigos do Estado, tendo seus direitos políticos cassados por decisões arbitrárias de um sistema jurídico dominado desde a base pelo bolivarianismo. São líderes de um movimento jogados na quase clandestina, sob repressão dos órgãos oficiais e também das milícias ligadas ao oficialismo.
Lula aproveitou para desdenhar dos opositores venezuelanos, comparou sua condição de inelegibilidade na eleição de 2018 com a dela em 2024. “Ao invés de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato que disputou as eleições”. A fala é indecorosa tanto do ponto de vista moral quanto histórico. Onde está a condição de progressista em atacar uma mulher para defender um regime autoritário e essencialmente militar? Outros líderes da esquerda latino-americana já golpearam abertamente o Maduro, sugerindo que possui ideias de um ditador. É o caso de Gabriel Boric, presidente do Chile, e de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, com visões mais evoluídas do que é uma democracia comparada ao colega brasileiro, que só olha o viés ideológico.
Mas a resposta veio melhor que descaso de Lula, em sua conta no X, Corina Machado deu uma contundente resposta a Lula. “O senhor está validando os atropelos de um autocrata que viola a Constituição e o Acordo de Barbados, que o senhor diz apoiar”. O petista tenta posar de ator isento na costura de um acordo para a realização da eleição na Venezuela, mas o teor de suas falas ressalta o laço político histórico que possui com Maduro, bem como a simpatia pessoal que nutre por ele. Uma posição que enfraquece o Brasil como líder regional. Pelos dados da ONG humanitária Provea, 36 líderes oposicionistas conhecidos foram presos desde o início de 2024, e existem cerca de 200 pessoas em cárcere por serem oposicionistas, incluindo estudantes, LGBTs e políticos. Maduro também determinou a expulsão dos membros do Comissionado das Nações Unidas para Direitos Humanos sob a alegação de que representaria interesses “colonialistas”. E Lula quer pedir confiança para este governo em receber observadores internacionais para monitorar as votações. Nenhum observador terá liberdade.
Enquanto imagina ser líder internacional, o Brasil bate recordes em queimadas na Amazônia, aumentou 6% em seu governo as mortes de ianomâmis, e a dengue supera os 1,3 milhões de casos com oito unidades da federação mais DF em estado de sítio. O novo dado negativo do seu primeiro ano do terceiro governo é que bateu recorde na quantidade de casos de feminicídios registrados no Brasil. Desde que o crime passou a ser tipificado por lei em 2015, de acordo com dados divulgados na quinta (7) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foram 1.463 casos notificados nos 26 estados e no Distrito Federal, contra 1.440 em 2022. De acordo com o levantamento, isso representa 1,4 mulher para cada grupo de 100 mil habitantes, um número que se manteve o mesmo na comparação com o ano anterior, mesmo com o aumento registrado.“A legislação vigente qualifica o feminicídio como um crime que decorre de violência doméstica e familiar em razão da condição de sexo feminino, em razão de menosprezo à condição feminina, e em razão de discriminação à condição feminina”, cita o Fórum.
A região Sudeste é apontada, ainda, como a que teve o maior crescimento de feminicídios no ano passado, com uma variação de 5,5% – era de 510 vítimas em 2022. Apenas o Sul registrou uma redução no período, de 8,2%. Embora a região Sudeste tenha registrado a maior quantidade de casos em 2023, foi o Centro-Oeste do país que teve a maior taxa de feminicídios, com 2 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, 43% superior à média nacional. O Norte vem na sequência, com 1,6. Lula parece ter uma dicotomia sobre o que é democracia, e ao pensar ser um líder global, sua gestão tem condenado o Brasil a números piores.
Por Tulio Ribeiro