As manifestações realizadas em 8 de janeiro não configuram um golpe de Estado. “Não havia um líder no 8/1. Eram senhoras, crianças, rapazes, moças”, diz o ministro da Defesa de Lula. Assim o ministro de Lula da silva garantiu que não houve tentativa golpista desconstruindo a retórica petista.
Em entrevista ao jornal 'O Globo' ainda afirmou que as Forças Armadas não buscavam impor um golpe ao país, absorvendo o Exército, Marinha e Aeronáutica. "Poderiam até que algumas pessoas da instituição quisessem, mas as forças armadas não queriam um golpe", seguiu ele." É a história de um jogador indisciplinado em uma equipe de futebol: Ele sai, a equipe continua. No final me parecia que havia vontades, mas ninguém materializava por que não havia lideranças."
Mas a fala do ministro da Defesa de Lula, José Múcio Monteiro (PRD), recebeu críticas de Lindbergh Farias, deputado federal do PT. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) criticou a fala de Múcio no X, o antigo Twitter . Para o parlamentar, o ministro deu uma “anistia prévia” ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “Como assim Ministro? Uma das linhas mais importantes da investigação conduzida pelo STF é sobre a autoria intelectual dessa tentativa de golpe”, declara Farias. Logo depois, o deputado diz que “essa fala é quase a defesa de uma anistia prévia da cúpula golpistas, de militares envolvidos na trama e do próprio Jair Bolsonaro”. Em uma entrevista em agosto, Múcio evitou chamar os invasores de "golpistas". “Aquele dia era muito fácil se as Forças Armadas quisessem um golpe, o povo foi. Era só apoiar aqueles baderneiros que não representavam a sociedade”, disse à Folha.
Tenho muito respeito pelo Ministro José Múcio, mas as declarações dele no jornal @OGloboPolitica de hoje são gravíssimas. “Não havia um líder com quem negociar. Eram senhoras, crianças, rapazes, moças... Como se fosse um grande piquenique, um arrastão em direção à Praça dos Três…— Lindbergh Farias (@lindberghfarias) January 5, 2024
O que enfurece o PT é afirmação que atos do 8 de janeiro “não havia um líder com quem negociar”. Completou: “Eram senhoras, crianças, rapazes, moças... Como se fosse um grande piquenique, um arrastão em direção à Praça dos Três Poderes”. A declaração, dada durante uma entrevista ao 'Globo', contradiz os inquéritos abertos no Supremo Tribunal, que buscam encontrar os supostos líderes do movimento. O grande interesse do partido governista é usar esta retórica eleitoralmente para este ano e em 2026. Algo que parece ter se perdido.
Múcio ainda comparou com “foi um movimento de vândalos, financiados por empresários irresponsáveis”. Vandalismos que a esquerda e direita praticaram em momentos distintos da história.“Você pode dizer: ‘No governo anterior havia pessoas que desejavam o golpe’, mas não havia um líder que dissesse assim: ‘Nós queremos, eu sou o chefe, vamos’. Não existe revolução sem um chefe”, acrescentou. Isto desmonta o discurso de palanque governista.
Outra frente política é o avanço contra Bolsonaro. Em 2023 investigações contra o ex-presidente avançaram por obra de Alexandre de Moraes, já neste ano 2024, algumas premissas deverão acelerar a apresentação de uma ou mais denúncias contra o ex-presidente. A entrada de Flávio Dino no STF, a nomeação de Paulo Gonet para a chefia da PGR e a homologação de um acordo de delação entre a Polícia Federal e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid são fatos que tem efeito inercial sobre o processo.
As investigações que mais se aprofundaram em 2023 envolvem a falsificação do cartão de vacinação de Bolsonaro contra a Covid; a suposta apropriação de joias e relógios presenteados por sauditas em viagens internacionais; o suposto uso de cartão corporativo da Presidência para gastos pessoais e familiares e a alegada suspeita de incitar a multidão que invadiu e depredou as sedes dos Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro. Ainda estão abertos inquéritos mais antigos, sobre a suposta interferência na PF em 2020; a associação de vacina contra Covid à Aids; e ainda sobre as críticas e dúvidas lançadas pelo ex-presidente em relação às urnas eletrônicas. A PGR, único órgão que poderia denunciar até então Bolsonaro perante o STF, descartou a ocorrência de crimes ou ainda não encontrou provas suficientes para acusar formalmente o ex-presidente e, com isso, abrir uma ação penal que o tornaria réu. Majoritariamente elas cresceram apenas porque Moraes ainda mantém os inquéritos abertos. Nomeado por Bolsonaro, o antecessor de Gonet na PGR, Augusto Aras, sempre descartou as suspeitas. Mas com a posse de Gonet na PGR, é esperada uma pressão ainda maior sobre o órgão, principalmente por parte do STF, para denunciar Bolsonaro, justamente por atos que poderiam ser enquadrados como “ataques à democracia”, ou mais especificamente, crimes contra o Estado Democrático de Direito. No quadro pintado por um grupo de delegados da PF que respondem diretamente a Moraes, Bolsonaro teria contribuído para o 8 de janeiro pelo menos desde 2020, com a convocação e participação em manifestações de rua contra o STF; e nas transmissões ao vivo nas redes em que semeou desconfiança em relação às urnas eletrônicas.
Parte dessas acusações já foi aproveitada por Gonet no parecer em que ele defendeu, no TSE(onde atua desde 2021), a condenação de Bolsonaro à inelegibilidade. Politicamente lança ideia sobre Gonet que tenderia a agir mais ainda, como procurador-geral, em sintonia com Moraes, principal patrocinador, ao lado de Gilmar Mendes, de sua indicação pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo. Os dois ministros também tiveram influência decisiva sobre Lula para colocar no STF o ministro da Justiça Flávio Dino, que, no cargo, que aclaram intenção de criminalizar o “bolsonarismo”.
A defesa de Bolsonaro tem trabalhado para inocentá-lo. Primeiramente alegaram falta de competência do STF para tocar os processos, isso porque, desde que deixou o mandato presidencial, Bolsonaro não tem mais foro privilegiado. Assim, nesta abordagem as investigações já deveriam ter descido para a primeira instância da Justiça, como ocorreu com Lula e Temer depois que deixaram a Presidência.No que tange o 8 de janeiro, os advogados alegam que Bolsonaro não tem qualquer participação – deixou o Brasil rumo aos Estados Unidos mais de uma semana antes e teria postado o vídeo em 10 de janeiro sob efeito de medicamentos, por engano. O que agora foi confirmado pelo próprio ministro de defesa de Lula. Referente às jóias é de que não havia clareza quanto à natureza pública ou privada dos objetos. Quanto aos cartões de vacina, a defesa do ex-presidente atribui tudo a Mauro Cid e a outros ex-auxiliares, que teriam agido sem seu conhecimento. Infelizmente, a decisão estará mais nos desdobramentos políticos que na justiça.
Por Tulio Ribeiro