Lula se desespera ao perder para Milei

desesQuando repetida vezes o presidente Lula da Silva era cobrado por sua proximidade com Nicolás Maduro, que inabilitou adversários para eleição de 2024 como o Partido Comunista da Venezuela que é o mais antigo do país e mandou prender 33 homens por estarem numa sauna gay, a resposta padrão era sempre que o Brasil não influenciava em outros países e cada país deveria ser soberano. No caso da Argentina, Lula demonstrou que a realidade é desconexa do seu discurso. Aprovou dois empréstimos pontuais que não estavam programados para o país vizinho em dificuldades e foi atendido pela presidente do Banco dos Brics, Dilma Rousseff, em outro empréstimo aos ' hermanos'. Nada contra dar crédito, mas a Argentina não tinha garantia nem condições cadastrais para receber o financiamento perto da eleição.

Lula fez mais em tentar interceder na eleição dos vizinhos, mandou sua equipe de assessores de sua campanha para servir Massa, candidato do oficialismo contra o liberal Jorge Milei. Para completar, declarou apoio aberto ao candidato do atual presidente Alberto Fernández. Lula ainda pensa ser um líder no continente como no começo do século. Não é.! Pelo contrário, tem rejeição alta em países da região, mesmo administrados por esquerdistas como na Colômbia, Chile e Argentina. No Peru, Equador, Paraguai e Uruguai, comandados pela direita, a situação é pior ainda. Apresentando-se com incômodo ator político e péssimo ' cabo eleitoral', o resultado não poderia ser outro. Milei massacrou Massa por 56 à 44 por cento. Lula atuou como imperialista que muitas vezes criticou em seus discursos. Mas não se pode exigir na maioria das vezes conexão entre a prática e o que ele verbaliza. Lula é um populista, que se diz de esquerda, mas governa com o ' Centrão' que é à direita.

Espertamente, sabendo que Milei já lhe chamou de corrupto e que não negociaria como um " comunista" como ele, Luiz Inácio Lula da Silva, desejou "boa sorte" ao novo governo da Argentina, sem mencionar o presidente eleito ultraliberal Javier Milei, cujas posições contrárias e ataques à esquerda levantam questões sobre as futuras relações entre os dois países.  Depois de dizer que a Argentina merecia um candidato democrátio (que seria Massa), sorrateiramente disse que "a democracia é a voz do povo" e "deve ser sempre respeitada". Depois de parabenizar as instituições e os argentinos pela condução das eleições, ele disse que o Brasil "sempre estará disposto a trabalhar com seus irmãos argentinos".

Embora o líder do PT não tenha ligado para Milei para parabenizá-lo, a posição de seu governo é manter um canal aberto com a Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil. Mas Milei falou por telefone com Jair Bolsonaro. O ministro da Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, disse nesta segunda-feira que Lula só falará com Milei quando ele pedir desculpas. "Ele ofendeu gratuitamente o presidente Lula. Seria um gesto como o presidente eleito ligar para pedir desculpas", disse. Atitude do ministro deveu-se pelo  ultraliberal acusar  Lula de ser "comunista e corrupto" e de financiar a campanha do adversário. A verdade é que tanto o PT quanto integrantes do Executivo apoiaram nos bastidores durante a campanha o candidato Sergio Massa, da União pela Pátria (UxP) e aliado de Alberto Fernández.

A jogada irresponsável e mal sucedida de Lula pode levar a relação bilateral ser a pior da história. Não é por outra razão preocupação e desespero do governo brasileiro, já que o líder do La Libertad Avanza (LLA) disse que romperia os laços com Brasil e China, referindo-se ao Mercosul, que reúne Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, Lula defende sua importância para o crescimento das economias do continente e espera que o acordo com a União Europeia seja concluído no início de dezembro, quando termina sua presidência pro tempore do bloco. Mas com Milei, Paraguai, Uruguai e Argentina estarão contra o governo brasileiro. Sem contar que Lula perderá o apoio da região para sua ambição pessoal de uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Na visão de Milei nas primárias de agosto, o agora presidente eleito comentou que o Mercosul deveria "ser eliminado" e o chamou de "uma união aduaneira de baixa qualidade que leva ao desvio de comércio e prejudica cada um de seus membros". A possível dissolução  do grupo ainda comprometeria um acordo com a União Europeia, que está travado desde 2019 à espera de um consenso entre os países envolvidos.

O fracassado que prometia ser protagonista, seja na guerra entre Ucrânia e Rússia ou Israel e Palestina, chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou nesta segunda-feira que "salvar o Mercosul" é prioridade para o governo Lula agora. "Temos que respeitar o resultado das eleições, por um lado, manter relações como dois Estados e, se possível, salvar o Mercosul. A relação entre Brasil e Argentina é a base do Mercosul e se reflete em toda a América do Sul", acrescentou. Em seara igualmente importante que gera grande incerteza é a esperada incorporação da Argentina ao grupo BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em 1º de janeiro. Para Lula, é essencial que seus membros compartilhem posição semelhante e uma eventual entrada da extrema-direita argentina enfraqueceria o bloco.

Prontamente, Milei já comentou que não quer fazer parte disso. "Nosso alinhamento geopolítico são os EUA e Israel. Não vamos nos alinhar com comunistas", disse Milei. "Não vou fazer negócio com nenhum comunista. Sou um defensor da liberdade, da paz e da democracia. Os comunistas não entram lá. Os chineses não vão lá, Putin não vai lá. Lula não entra lá", disse.

Em entrevista ao jornal O Globo, Amorim deslizou da realidade e verbalizou que o Brasil vai apostar em uma "relação de Estado" e descartou os laços de Milei com a família Bolsonaro, o que se mostrou real, já que os filhos de Bolsonaro foram fazer campanha pra Milei que retribuiu ligando para ex-presidente depois da vitória. "É possível ter uma boa relação, mesmo com presidentes de ideologias muito diferentes. Tudo depende da capacidade de colocar os interesses do Estado acima das preferências pessoais. Somos capazes disso. Vamos ver se o presidente eleito da Argentina será o mesmo, e é isso que esperamos", disse falaciosamente. Prontamente diante do desconforto, não confirmou a presença de Lula na posse do presidente eleito da Argentina, mas esclareceu que "o Estado brasileiro estará representado". Responsável também pelos empréstimos oportunistas para o governo Fernández, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que "é hora de aguardar os acontecimentos. Agora não há muito o que comentar, temos que esperar", admitiu.

Já o ex-presidente Jair Bolsonaro não escondeu seu entusiasmo. O ex-militar garantiu que "a esperança brilha novamente na América do Sul" e expressou sua esperança de que "esses bons ventos cheguem aos Estados Unidos e ao Brasil, para que a honestidade, o progresso e a liberdade voltem para todos". Donald Trump também já falou com Milei, que já declarou que romperá com a tradição de fazer a primeira visita ao Brasil e irá para os Estados Unidos e Israel primeiramente.

Ainda era 1991, quando o Brasil se tornou principal destino dos produtos que a Argentina exporta, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), órgão do governo argentino subordinado ao Ministério da Economia. Abordando o comércio exterior brasileiro, a Argentina foi em 2022 o terceiro principal destino das exportações, com mais US$ 15,3 bilhões em transações, atrás apenas de China (US$ 89,4 bilhões) e Estados Unidos (US$ 37,4 bilhões), segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O vizinho sul-americano foi também o terceiro país do qual o Brasil mais importou no ano passado, com US$ 13,1 bilhões em operações do tipo, também depois da China (US$ 60,7 bilhões) e dos Estados Unidos (US$ 51,3 bilhões).

Entretanto, como disse Milei que a "tarefa não é para corruptos nem covardes", ele assume a presidência do país em meio a um cenário, no mínimo, árduo e penoso. A nação sofre com uma inflação de 143% no acumulado de 12 meses e um nível de pobreza acima de 40%, enquanto o peso já se desvalorizou em mais de 50% frente ao dólar no último ano, e a dívida pública chega a 85% do Produto Interno Bruto (PIB), com tendência de alta. Garantido da maioria das exportações argentinas, o agronegócio sofreu com uma das piores secas da história do país na safra 2022/2023, o que reduziu drasticamente a produção e consequentemente a entrada de dinheiro na economia. Nos dez primeiros meses de 2023, a Argentina teve de importar o equivalente a US$ 1,9 bilhões em soja do Brasil, superando em valor o que adquiriu do vizinho em automóveis, principal produto brasileiro exportado para o país historicamente. Exemplificando, em 2021, todas as transações de soja brasileira para a economia argentina haviam somado US$ 90 milhões.Mas se há crise  agora, a recomposição da produção agrícola neste segundo semestre, somada à produção de óleo e gás de xisto no campo de Vaca Muerta e a exploração de lítio, principal mineral usado em baterias de carros elétricos, pode criar uma inércia acelerada a atividade econômica da Argentina sob Milei, o que poderia impulsionar também o comércio.  O interesse da Europa e dos EUA, vão alijar Brasil e China nos novos investimentos que são promissores.

Para a Argentina em si, a nova gestão é uma oportunidade de mudança da atual linha econômica, de um modelo peronista implementado há décadas e falido. A ideia de dolarizar a economia argentina, caso se concretize, poderia ter efeitos positivos para o Brasil se conduzida com sucesso, para alguns analistas. A medida, no entanto, é complexa e não poderia ser executada em curto prazo, uma vez que a Argentina não dispõe de reservas cambiais em dólares em volume suficiente. “Milei veio com um discurso diferente, uma proposta econômica liberal e de abertura comercial, financeira, privatizações. A política dele será testada. A dolarização que ele propôs também aconteceu no Equador e deu certo”, afirmou o sócio e economista-Chefe da JF Trust, Eduardo Velho, à Agência Estado. “Se for bem-sucedido com o objetivo da recuperação da confiança, com o choque monetário e a recuperação da credibilidade, quem será beneficiado disso será o próprio Brasil”, acrescentou.

O governo Lula já concluiu, de forma reservada, que a vitória do economista traz mais incerteza para o cenário regional e para o avanço de acordos comerciais, notadamente do que é negociado entre Mercosul e União Europeia.  Olhando para Milei, o enfrentamento maior será a governabilidade, e moderando sua retórica pode negociar com os outros partidos no Congresso e fazer avançar a sua agenda. O garantido é que Milei terá relação fria com Lula e impedirá o petista de impor agenda de esquerda à América do Sul. Lula, em sua ambição de ser líder mundial, perde toda credibilidade e demonstração de força no seu próprio continente, assim como terceirizou seu governo ao Centrão. Está preso ao início do século com outros líderes da América latina. A realidade se mostra distinta, ele entrou numa jogatina que vai prejudicar o Brasil, é quando a vaidade sobrepõe a responsabilidade que requer de um Presidente da República.

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Bolsonaro conversa com Milei

Por Tulio Ribeiro

 

 

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