Vencendo o pleito três vezes para presidente da República, em mais de quarenta anos de carreira política, ele priorizou discursos que seus amigos de caminhada queriam ouvir. Sem projetos, mas exagerando em frases soltas que agora, permite a ele não ter uma linha de governo nem compromisso, criamos no Brasil uma forma mesclada de negócio em balcão com compras de deputados com emendas com uma conjunção política que cabe tudo para um caminho difuso.
Definiu bem o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) em participação da Expert XP 2023 (1/9), ao ser questionado sobre as dificuldades de Lula para governar, muitos chamam o alagoano de efetivo presidente do Brasil. Apontando que nada vai mudar na linha liberal empreendida por Temer e Bolsonaro
“O Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, fazendo ou não parte da base, não se furtaram a votar todas as matérias de interesse do país: a melhora do momento econômico, a melhora da retomada do crescimento, as possibilidades de uma gestão mais franca e mais plena orçamentária. PEC da Transição, arcabouço fiscal, a tão esperada reforma tributária, a lei do Carf. Nada disso dependeu de base. Não foi levado em conta quem era partido de oposição e quem era partido do governo. Agora, nós vivemos em um sistema de presidencialismo de coalizão. Ganhou a eleição o presidente da República e não tem uma base consistente dentro do parlamento, ele teve que buscar apoio de partidos que não fizeram parte da sua coligação para dar sustentação política. Isso é salutar que aconteça”. Ou seja, Lula está na espiral das emendas por votos e se transformou no campeão de liberação em véspera de votação. Quem manda é Lira e o Centrão, não Lula, que se sente à vontade pois não apresentou plano de governo para se eleger na frente de Bolsonaro por apenas 0,5%.
A ironia é tanta que vice-presidente do PT o deputado Washington Quaquá (RJ) declarou: “A esquerda está muito fundamentalista”. Não tem de cumprir nada do que prometeu o PT, apenas migalhas que permitam. A Eletrobrás mal privatizada e novos apagões, lei trabalhista, a refinaria de Mataripe vendida por uma bagatela, o país tomado pela violência e drogas, são apenas exemplos. E Lula concorda, e fará este jogo onde no final a maioria perde, e o dono da emenda ou do ministério fica mais rico. Os desvios de hoje serão contados na história num futuro não distante.
Adesão do Centrão amplia tensões entre Lula e o que verbalizou no passado, não é esquecimento, e sim estratégia. O seu ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, alterou na prática o Orçamento da União e manobrou o dinheiro que estava carimbado para o Seguro Rural para cobrir emendas parlamentares destinadas a municípios do Mato Grosso, sua base eleitoral. O cancelamento de R$ 45,2 milhões do Seguro Rural e a transferência de mesmo valor para a rubrica 20ZV (de Fomento ao Setor Agropecuário, passível de emendas parlamentares) foi feito pelo Ministério do Planejamento, a pedido de sua pasta. Fávaro no início do mês agosto destinou quase metade dos recursos do extinto orçamento secreto para cidades de seu reduto eleitoral, em Mato Grosso. Entre junho e julho empenhou R$ 135,7 milhões para cidades mato-grossenses, o que corresponde a 48,5% dos R$ 279,5 milhões já carimbados em 2023. O Rio Grande do Sul, outro estado com perfil agrícola, recebeu apenas R$ 4,2 milhões, 3% do destinado a Mato Grosso. A subvenção ao Seguro Rural é vista como uma ferramenta eficaz para aumentar as áreas agrícolas seguradas, criando um colchão para atenuar os desastres climáticos.
E na prática lulista, mirem, chegamos ao 38º ministério, só que ninguém quer. O Centrão não quer o Ministério da Micro e Pequena Empresa. Só que tem dois políticos do Centrão que estão esperando há um mês outros ministérios. Eles já são ministros, só que sem pasta. Para completar, a irmã do ministro Juscelino Filho renovou contratos com a empresa mesmo após as operações da PF. A prefeita de Vitorino Freire (MA), Luanna Rezende, renovou contratos no valor de R$ 8,9 milhões com a empresa Construservice mesmo após a companhia ter sido alvo de duas operações da Polícia Federal (PF) em 2022. Luanna foi alvo da Operação Odoacro, agora focada em identificar o "núcleo público da organização criminosa, após se rastrear a indicação e o desvio de emendas parlamentares destinadas à pavimentação asfáltica de um município maranhense", indicou a corporação.
Em janeiro, Juscelino como deputado federal pelo União Brasil, direcionou R$ 5 milhões do orçamento secreto para a Prefeitura de Vitorino Freire asfaltar uma estrada de terra que passa em frente à sua fazenda. Em fevereiro de 2022, a Construservice disputou a licitação sozinha e foi contratada por Luanna. O engenheiro da Codevasf, que assinou o parecer, foi indicado por seu grupo político. O ministro de Lula acumula uma série de acusações sobre uso indevido de verbas públicas e usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e diárias para participar de leilões de cavalos de raça em São Paulo.
Lula, eleito com discurso de acabar com a fome e pelo desenvolvimento, não multiplicou pães nem picanha, mas proliferou ministérios e cargos. Pior, institucionalizou o desvio na forma de emendas 'inchadas' sendo campeão na liberação num único dia. Ele reverbera o pior da política.
Por Tulio Ribeiro