O 'mal' poder de Janja sobre Lula e a República

janaA primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, tem um leque de atuações que compromete a política de negociações do marido. Vasta seara, passa por apagões, um exército de contra informação, disputas contra oposicionistas e impor constrangimentos aos ministros da República, tudo usando o nome do marido e um cargo institucional inexistente para política, o de esposa.

Diante do apagão que atingiu 25 estados e o Distrito Federal na manhã desta terça-feira (15/8), a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, foi às redes sociais para relacionar a pane elétrica à privatização da Eletrobras. Saiu da sua cabeça via Twitter, algo desconexo entre causa e efeito. "A ELETROBRAS foi privatizada em 2022". A antiga estatal passou à iniciativa privada em junho do ano passado, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto. A associação feita por Janja, não há uma causa oficial apontada para a falha elétrica. Em atitude ponderada, o Ministério de Minas e Energia instalou um gabinete de crise para apurar as causas do blackout e medidas para que a falha não se repita.

A 'expert' em política e 'futurologia' já faltou com educação com senador eleito. Ela premeditou que Gleisi seria senadora e Moro logo reagiu: "falta de respeito".No dia seguinte à declaração, em 30 de junho, ela obteve auxílio da Presidência da República para divulgar uma live: o programa Papo Reto. Mas é pouco para sua diversidade de atuação inadequada. Atualmente ela conta com um gabinete próprio no terceiro andar do Palácio do Planalto, mesmo piso da sala de Lula, onde costuma despachar diariamente com sua equipe, com liberdade e recursos, para ampliar a presença de Lula e do governo na internet, Janja investe em uma comunicação própria pelas redes sociais. Recentemente, por exemplo, a primeira-dama reuniu dezenas de influenciadores para um encontro com Lula no Palácio do Planalto. Durante o encontro foi feita uma apresentação, " vamos povoar as redes; como disseminar informação e combater desinformação”.

É claro sua forte influência sobre o marido, o presidente Luiz Inácio (PT), a socióloga paranaense se comporta como fosse uma ministra de Estado, não importa a seara ou a pasta. Desrespeitando a institucionalidade e a história das primeiras-damas anteriores, ela exerce não só um papel de "eminência parda", mas participa publicamente dos debates em torno do governo. Em passos largos caminha para dificultar as já delicadas negociações de Lula com o Centrão. Com a minirreforma ministerial às portas, a primeira-dama tromba com as negociações políticas por alteração de titulares, como o da Saúde (Nísia Trindade), da Cultura (Margareth Menezes) e do Esporte (Ana Moser) sejam mantidos na atual configuração. O ministério da Saúde e do Esporte estavam entre os interesses dos partidos do Centrão. Ela se aliou ao ministro Wellington Dias no Desenvolvimento Social, pasta cobiçada pelo Centrão em troca de apoio político ao Palácio do Planalto. Janja afirmou, em julho, que a pasta é “o coração do governo”. Mas a briga não é fácil e pode perder. O ministério responsável pela gestão do Bolsa Família é negociado com o PP.

Em março, usou a TV Brasil, veículo público de comunicação da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) no programa 'Papo Reto'. A repercussão gerou diversas críticas e o caso foi para na Justiça. A 25ª Vara Cível Federal de São Paulo determinou que a EBC explicasse a transmissão com a primeira-dama.  A compra de uma gravata de R$ 1.000 reais em Lisboa, em 30 de abril, e as altas despesas com hospedagem mostraram que a primeira-dama parece não se preocupar. A atuação política da primeira-dama pode afetar a articulação do governo Lula com atores políticos, leia-se centrão.

Aos olhos de aliados, a primeira-dama é vista como uma análise de medida que acontece no governo e que chega a Lula. Ela também faz a ponte entre o chefe do Executivo e as redes sociais, visto que Lula não tem celular particular. Apesar de não ter uma agenda oficial, ela promove reuniões com ministros e demonstra interesse em intervir nas pautas. Se visitamos a história, as primeiras-damas possuem conduta discreta e que se envolvem em ações sociais, humanitárias e de assistência a pessoas em condição de vulnerabilidade. É inadequado e raro, na história política brasileira, que você tenha primeiras-damas se envolvendo diretamente com os assuntos de governo de forma incisiva.

Por certo de forma moderada, Dona Ruth agiu no governo de Fernando Henrique, Michele Bolsonaro interveio em muitas coisas do ex-presidente Bolsonaro, mas sempre fizeram internamente. Janja parece querer divulgar seu suposto poder diante do já debilitado Lula em sua relação com o Congresso. Ela não oculta sua ambição de ser uma articuladora política dentro do próprio governo. Sem experiência nem conhecimento prejudica a nação, além que meio político mira esta ação de forma negativa. O Brasil tem muitos desafios para superar, uma primeira-dama intervencionista de fora da política é um problema que pode se avolumar com a frágil democracia brasileira.

Por Tulio Ribeiro

 

 

logo
Rua Dom Bosco, 96 - Cirurgia 
Aracaju-SE - CEP: 49.055-340
Whatsapp:  79 99932-1656
Email: contato@gazetahoje.com