O governo Lula sofre dependência do legislativo, pelo próprio modelo da nossa constituição. Mas a situação se agrava quando tem, mesmo com pouco tempo, uma aprovação (caiu de 40 para 36) que não pressiona o congresso. Lula ganhou apenas por 0,9% do seu oponente e com uma coligação que vai da centro-esquerda liberal à direita. O reflexo disto está na impossibilidade de entregar o que prometeu. São trinta e sete ministérios de uma diversidade nada republicana e em parte com diálogo em regiões de milícia, visto no Rio Grande do Norte ou oeste da cidade do Rio de Janeiro, comandadas pelo tráfico e abandonadas pelo Estado na sensação do cidadão.
A impaciência do presidente que não aprova nada e já começou colecionar derrotas nas votações aclarou-se no discurso de estreia do Conselho Desenvolvimento de Econômico Social Sustentável (4 maio), Lula mandou um aviso ao debilitado ministro da articulação política. “Quero reconhecer o trabalho extraordinário do ministro Alexandre Padilha. Eu espero que ele tenha a capacidade de organizar e de articular que ele teve no conselho, dentro do Congresso Nacional. Aí vai facilitar a minha vida". Nesta crise, até o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) já não esconde descontentamento na relação do Executivo com Congresso. Até quando o microfone do presidente falhou nesta reunião, o impaciente Lula abandonou o púlpito, mas a situação se normalizou, pensou e retornou ao espaço.
Enquanto o governo não anda para frente se fala de tudo culpando outros setores. Os juros e a briga com o Banco Central é o principal. Lula ao discursar neste encontro, afora atenção especial aos atos passados de Bolsonaro, não se ouve outro bramido que não contra os juros. Alarga-se o sentimento e que chegou a hora de o Banco Central começar a reduzir a taxa Selic, mantida em 13,75% ao ano. Lula pode continuar culpando os juros. Entrementes existem inúmeros problemas no seu governo que o executivo podia atuar com seus quase quarenta inomináveis subordinados diretos. Neste cotidiano perdeu-se o compromisso assumido pelo chamado ' primeiro-ministro' Arthur Lira de aprovar até quarta-feira da semana que vem, 10 de maio, a proposta de nova regra fiscal. Não se apresentou nem o texto do deputado relator Cláudio Cajado.
A verdade é que o terceiro mandato de Lula entrou no seu quinto mês e o Planalto ainda não aprovou nada no Congresso. A prioridade de Lira era outra. Pior: acaba de sofrer uma primeira derrota constrangedora na Câmara. A derrota articulada por Lira teve resultado. Por 295 votos a 136, os deputados derrubaram parte dos decretos editados por Lula para modificar o Marco do Saneamento Básico. Suspendeu-se a regra inserida por Lula para recolocar as companhias estaduais no jogo sem licitação. Legendas ' aliadas' como MDB, União Brasil e PSD, que possuem ministérios, viraram de lado. A questão é que a recorrente prática de trocar ministérios por apoio legislativo não garante mais nada. Deputados da sua coligação querem é dinheiro. Antes da derrota, o Planalto anunciou a liberação de R $1,6 bilhão em emendas e depois da derrota mais R$ 3 bilhões. O ecoar de verbas vem de todos lados. Ainda houve a vergonhosa retirada de pauta da PL fake News, por falta de votos. Um golpe contra a internet e beneficiando as grandes redes de televisão. Após o Congresso adiar, o STF pode julgar regras do marco civil da internet em socorro ao governo em sua falta de articulação.
Dando continuidade a infinidade de problemas, a conflitante relação entre Lula e o agronegócio reside na complicada tentativa de se equilibrar entre o respeito ao compromisso histórico do PT com o MST e os interesses e necessidades da locomotiva do PIB do país. Declarações de ruralistas mostram o grau de descontentamento. “O governo tem os invasores como seus aliados, o próprio presidente usa boné deles"... “Estão invadindo área de plantação de celulose, fazendas produtivas. Isso é crime e o governo precisa combater, não pode ser cúmplice”, Jacyr Filho, Conselho Agronegócio-Fiesp.
Alguma mudança do passado? Nenhuma, a questão é que se Lula não entrega nada de relevante ao país, vai terminar seu mandato com a ideia de estelionato eleitoral, mas quantos Lulas existem no dom de iludir?
Por Tulio Ribeiro