Já é conhecido que os países da OPEP + na noite de 2 de abril decidiram cortar a produção em 1,16 milhão de barris por dia, um dos maiores cortes nos últimos dois anos. O anúncio inesperado foi justificado pela preocupação das grandes potências mineradoras com o estado da economia global. Imediatamente após o anúncio da decisão, os preços do petróleo dispararam 8%.Mas a questão que se vislumbra agora é que o poder do petróleo é demasiadamente grande pois é a engrenagem maior da produção mundial, mesmo para outros setores, e debruçamos na analise do que pode acontecer neste curto e médio tempo.
Os patamares do mercado Brent pela primeira vez em um mês ultrapassou US $85 por barril. Alguns analistas admitem que, no futuro, os preços podem subir para US $100 o barril. Nesta ação coordenada os novos montantes de cotas foram distribuídas entre os países participantes do acordo da seguinte forma: Arábia Saudita reduzirá a produção em 500 mil barris por dia, Iraque - em 211 mil, Emirados Árabes Unidos - em 144 mil, Kuwait - em 128 mil, Cazaquistão - em 78 mil, a Argélia — em 40 mil. Até o Gabão, que é pequeno em termos de produção, reduzirá a produção em 8 mil barris por dia. Alguns dias antes, a Rússia anunciou sua redução, que, como a Arábia Saudita, será de 500.000 barris por dia.
Mensurando o montante total de cortes anunciados (incluindo ano passado) , representa cerca de 3,7% da demanda global. A última vez que a produção de petróleo caiu em tal escala foi apenas em 2020, em meio à crise do coronavírus, quando os preços caíram abaixo de US$ 30 por barril. Recentemente um queda importante foi na semana da crise do banco Credit Suisse,Silicon Valley Bank e Signature Bank, baixando de 70 dólares. Estes últimos cortes foram realizados com bastante cuidado em relação aos anteriores.
A realidade que gerou a decisão da OPEP +, é que os preços estavam pressionados por demanda inconsistente nestas últimas semanas, com o Brent atingiu a marca de US$ 70. A crise bancária nos EUA e na Europa teve um impacto negativo principalmente nas commodities, principalmente no ouro negro. A eminência de uma crise e uma recessão global em grande escala, indicada por um número suficientemente grande de indicadores, revelou-se muito séria para a tomada de contramedidas. Assim é de fácil compreensão que as potências produtoras de petróleo tiveram como base recordações da experiência de 2008, quando os preços do petróleo caíram repentinamente de recordes para os níveis mais baixos em muitos anos.
Entre os estadunidenses, a atitude de reduzir drasticamente a produção foi recebida com hostilidade. Importante lembrar, no outono (norte) de 2022, o presidente Joe Biden ameaçou à Arábia Saudita com "consequências" por cortar a produção. Mais uma vez, o discurso foi semelhante. O representante do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, em particular, chamou tal decisão de inapropriada. No entanto, não chegou a ameaças diretas.
Para os EUA, a queda na produção é um fator negativo: depois de enfrentar no ano passado patamares recordes de 40 ano, a inflação abrandou um pouco, muito por conta do fator combustível. Embora longe de níveis que podem ser considerados aceitáveis. O preço de um galão de gasolina atualmente se coloca no nível de US$ 3,5 em média, em comparação com US$ 4,2 há um ano. Uma mirada provável é que com a redução significativa na produção, os preços dos combustíveis podem subir novamente. Além disso, a liderança estadunidense acredita que a decisão está jogando junto com a Rússia, que poderá vender seu petróleo com ainda mais conforto contornando o teto de preço estabelecido. É importante destacar que a indústria petrolífera do país está no azul, mas a atual administração em Washington não tem boas relações com ela. Por sua vez, Rússia , China, Índia e Arábia Saudita têm avançado fortemente na comercialização do 'crudo' em moedas nacionais, o que debilita o dólar e principalmente uma reação dos EUA ou de seus parceiros europeus.
Com a notícia da queda na produção, o petróleo disparou imediatamente, chegando a marca de US $85 o barril. No total, nas primeiras horas, o crescimento foi de cerca de 8%. .O Goldman Sachs, por sua vez, elevou na segunda-feira sua previsão de Brent Crude para US $95, de US $90 no final do ano. O banco também elevou sua previsão do Brent Crude para 2024, agora vendo-o em US $100 no final do ano, ante uma projeção anterior de US $97.
Mas enquanto alguns analistas começaram a falar em US$ 100 após os cortes surpresa da Opep+, existe quem aponte outra intensidade de inércia, o Morgan Stanley está cortando suas previsões de preços para este ano e para o próximo, vendo o último movimento como uma provável admissão dos maiores produtores da Opep+ de que a demanda pode não estar indo muito bem no próximos meses. “A OPEP provavelmente precisa fazer isso para ficar parada”, disse Martijn Rats, estrategista-chefe de commodities do Morgan Stanley, conforme divulgado pela imprensa estadunidense. A abordagem continuou, "a decisão revela algo, dá um sinal de onde estamos no mercado petrolífero. E olhe, vamos ser honestos sobre isso, quando a demanda está rugindo... então a OPEP não precisa cortar”, observou Rats.
Partindo desta lógica particular que o banco Morgan cortou sua previsão do barril no mercado Brent (Londres) para o segundo trimestre de 2023 para US$ 85, de US$ 90 o barril anteriormente esperado. A previsão do terceiro trimestre também foi reduzida em US$ 5 o barril - de US $95 para US $90, enquanto a estimativa de preço do quarto trimestre foi reduzida para US $87,50, de US $95 por barril. Olhando mais à frente, o Morgan Stanley também reduziu sua previsão para a média do Brent em 2024 para US $85, de US $95 o barril. Neste mesma manada , o Citigroup também não vê o petróleo a US $100 em breve, embora aceite previsão de aumentos.
Mas no contexto geopolítico é improvável que os Estados Unidos tenham grande capacidade neste momento de contrariar a decisão da OPEP + com algo significativo. Eventualmente se pode continuar vender petróleo da reserva estratégica. Prontamente, Washington já tomou a decisão adequada para seus interesses: outros 26 milhões de barris de petróleo serão vendidos nas próximas semanas. Enquanto isso, a reserva total é de 370 milhões de barris, 200 milhões a menos do que há um ano, uma baixa histórica desde 1983.Situação que pode chegar num patamar preocupante.
Anteriormente, os EUA planejavam começar gradualmente a preencher as reservas em declínio (aproveitando a queda dos preços), mas em março essas intenções giraram em torno de 180 graus, o que pode ser outro motivo para a queda na produção da OPEP+. Um apelo à indústria petrolífera nacional também não deve ajudar, já que o setor agora prefere fixar lucros a expandir. Finalmente, as restrições à exportação podem configurar seriamente os consumidores europeus, agora dependentes dos suprimentos americanos, e ao mesmo tempo não ajudarão o mercado doméstico, onde os produtores tentarão recuperar seus lucros perdidos.
Segundo a imprensa especializada no setor reverberando Andrey Maslov, analista da FG Finam, a previsão do Goldman Sachs para o petróleo Brent parece bastante realista.
— Embora, talvez, US $95 por barril seja o limite superior na faixa de US$ 85-95. Ainda assim, uma queda na produção de 1,657 milhão de barril por dia (bpd) dificilmente será capaz de virar o mercado, mas certamente terá um impacto significativo. Tudo indica também que a decisão da Opep+ foi tomada sem muita publicidade e lembra a importância da aliança e de seus aliados para a economia global, adquirindo conotações políticas, observa o analista.
Já abordando o reflexo no mercado para os russos, patrocinadores do acordo, os analistas não esperam um aumento significativo no preço do petróleo russo. "É improvável que o preço aumente proporcionalmente devido a restrições de oferta e descontos para importadores. Portanto, embora o orçamento da Federação Russa seja reabastecido com fundos adicionais, ainda é muito cedo para falar sobre lucros inesperados em grande escala”, resume Maslov.
Por sua vez, o consultor da Vygon Consulting, Ivan Timonin, acredita que a última decisão da OPEP+ levará a uma redução da oferta de hidrocarbonetos líquidos em cerca de 1,1 milhões de barris por dia. Este é um volume bastante significativo no contexto do balanço do mercado global.
— No final de 2023, a demanda pode crescer 1,5 milhão b/d em relação ao ano anterior, principalmente devido à China e aos países em desenvolvimento. A produção, levando em consideração a posição designada dos países participantes do acordo, aumentará significativamente menos - cerca de 500.000 barris por dia, que serão fornecidos quase na íntegra pelos produtores norte-americanos. Assim, um pequeno déficit pode se formar no mercado mundial de petróleo, o que, por sua vez, cria pré-condições para o aumento dos preços. Nesse sentido, é provável que as cotações do Brent ultrapassem os US $100 em 2023, explicou o especialista
Conclusivamente, não se pode esquecer que o petróleo é a engrenagem principal da produção mundial, ela também é insumo para diversos produtos desde a agroindústria até vestuário. O maior negócio de 'commodities' do mundo, com maior volume, valor agregado e na maioria dos momentos de maior lucratividade da história recente. Elege, mantem e derruba governos, tudo sob comando da geopolítica e a ambição econômica.
Por Tulio Ribeiro