Após sete anos no Japão, onde fez gols e até escalou o Monte Fuji, Leandro busca espaço no futebol brasileiro, recorda passagens por Grêmio e Palmeiras e caso delicado: "Ali decidi mudar"
Leandrinho entrou no Presídio Central de Porto Alegre sentindo o peso dos olhares incrédulos sobre si. "O que você está fazendo aqui?", perguntou o delegado, sem entender por que o atacante - à época destaque do Grêmio - estava sendo fichado pela polícia na sua frente.
Era madrugada de quinta-feira, dia 19 de abril de 2012, e Weverson Leandro Oliveira Moura estava preso. Autuado em flagrante por uma blitz da Lei Seca, na esquina da Avenida Pernambuco com a Farrapos, ao mostrar uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) falsa.
Eu lembro que sentei na cadeira do presídio, parei por um segundo e pensei: cara, o que eu estou fazendo? O que é que eu fiz da minha vida?
Leandro se destacou por Grêmio e Palmeiras no Brasil e agora está de volta ao país, após sete anos no Japão. Mas naquele momento - aos 18 anos de idade - pensou em tudo que havia aprendido com a mãe, nas oportunidades que iria perder, no risco de ser impedido de jogar. E assim decidiu mudar.
Eu estava começando a sair, a beber, ir para festas, e não foi essa educação que eu tive dentro de casa.
– Se eu continuasse assim, minha carreira não teria o mesmo caminho. Aqui no Sul alguns lembram ainda e eu dou risada, porque entendo que foi necessário para perceber o caminho que eu estava tomando – confessa o atacante, com um leve sorriso no rosto.
Foi Vanderlei Luxemburgo, aliás, técnico do Grêmio naquele ano, quem deu suporte a Leandro. Não fez cobranças ou deu sermões, mas disse que o atacante fez "uma grande bobagem" e que precisava se concentrar na carreira e na família. E assim Leandro o fez.
– Luxemburgo teve um papel de pai naquele momento, de não me julgar. Falou que não ia me punir, não tinha nada com o clube. Eu cometi o erro, paguei pelos meus erros e ele me deu uma nova chance –- recorda.
Nós que escolhemos fazer o certo ou errado. E a partir daquele momento eu decidi viver para fazer o certo.
— afirma.
Futuro no Brasil?
Em 2012, Leandro chegou a ser condenado a dois anos de prisão pelo uso da CNH falsa, mas permaneceu detido por poucas horas. Por ser réu primário, teve a pena revertida em pagamento de multa e prestação de serviços comunitários. Assim, seguiu carreira por Grêmio, Palmeiras, Santos e Coritiba no Brasil, além de Kashima Antlers e FC Tokyo no Japão.
Estava na Ásia, aliás, ao longo dos últimos sete anos, e agora decidiu voltar. Entende que adquiriu maturidade - como pai, marido, ser humano - e que ainda tem muito a oferecer ao futebol brasileiro.
Leandro conta que recebeu propostas - e teve conversas - com clubes das Séries A e B, mas optou por esperar o término do campeonato para firmar uma transferência no início de 2024.
Teve bastante conversa com o Grêmio, mais de uma vez ligaram para meu empresário, mas a maior dificuldade foi por conta de eu estar sem jogar. Vários apresentaram proposta de salário, mas o maior entrave foi esse.
— explica o atacante, que também relata procura de clubes no Japão.
No Japão... uma escalada no Monte Fuji
O atacante voltou ao Japão no início do ano porque tinha contrato com o FC Tokyo, mas sem intenção de ficar. Abriu negociações para rescindir o vínculo e somente em julho conseguiu a liberação. Durante este período, seguiu treinando para manter o condicionamento físico e só não ia aos jogos. Aproveitou o tempo livre, portanto, para conhecer o Japão que não podia quando se dedicava somente ao campo.
Eu escalei o Monte Fuji com um amigo. Subimos com muita chuva e quando estávamos perto do topo, começou a nevar, então subimos no gelo também.
– Quando chegou lá em cima, ficou tudo cinza e não dava para ver nada. Esperamos uns 40 minutos, uma hora e nada. Decidimos descer e quando estávamos descendo, em menos de 10 minutos o tempo começou a abrir e o vento limpou tudo – lembra Leandro, com o olhar perdido, como quem procura resgatar na memória as imagens de um momento único.
O Monte Fuji tem 3.776 metros de altura e trata-se de um símbolo mundial do Japão, sendo a montanha mais alta do país e um ponto de referência espiritual aos moradores.
– Quando estamos lá em cima, a gente para pra pensar e o que eu fiz foi agradecer. Nós temos visto as guerras, infelizmente muitas pessoas inocentes perdendo a vida, e eu falo para Deus que não tenho do que reclamar. Não porque sou jogar ou tenho condições, porque eu e minha família temos saúde.
Por Camila Alves — São Paulo