O fracasso do governo nas agendas social, ambiental e de direitos humanos – as mais caras à esquerda –, além dos reveses na política externa, fizeram com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) redobrasse nas últimas semanas a sua aposta na economia como principal estratégia para as eleições presidenciais de 2026.
Os incêndios florestais sem precedentes, o escândalo de assédio sexual envolvendo o ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida e a escalada autoritária na Venezuela, tratada com passividade pelo Itamaraty, colocaram Lula ainda mais dependente de bons indicadores econômicos.
Não por acaso, o Palácio do Planalto celebrou com entusiasmo a expansão inesperada de 1,4% do produto interno bruto (PIB) no segundo trimestre e a desinflação em 0,002% em agosto, tomando os dados como sinais de recuperação, apesar da grande incerteza dos investidores quanto ao quadro fiscal.
Em entrevistas, Lula voltou a citar como meta o crescimento histórico de 7,5% do PIB em 2010, último ano de seu segundo mandato, que lhe rendeu popularidade recorde e garantiu a eleição da sucessora Dilma Rousseff (PT). Para analistas essa ambição é, contudo, impossível diante do cenário atual.
A primeira razão está no fato de Lula não dispor dos meios de intervenção que tinha no passado, como participação acionária do governo em empresas privadas, o controle da Eletrobras e o uso político do Banco Central (BC), que hoje opera de forma independente, além do aperto no orçamento público.
O outro motivo se refere aos efeitos colaterais sobre a inflação e os juros da gastança desenfreada e dos estímulos artificiais sobre a renda e o consumo, que explicam em grande parte a expansão trimestral inesperada do PIB. Apesar dos seguidos recordes de receita federal, a meta de déficit fiscal zero continua incerta.
O consultor empresarial e palestrante Ismar Becker acredita que Lula já perdeu o significativo capital político que tinha no exterior e corre agora o risco de repetir a situação no Brasil. “A questão toda é entender quanto do crescimento do PIB hoje é sustentado por medidas artificiais do governo”, diz.
Ele lembra que a inflação é sempre o pesado e injusto imposto sobre os mais pobres, que compõem a base eleitoral de Lula. "Se considerar que quase metade da população resiste a votar nele, o abandono de parte do seu eleitor cativo pode minar a reeleição. O presidente está brincando com fogo”, resume.
Por Sílvio Ribas (Gazeta do Povo)