A estratégia estadunidense é mais ampla do que os fatos que vemos agora. Os ex-funcionários sancionados, como Mozart Júlio Tabosa Sales e Alberto Kleiman, foram acusados de envolvimento em um esquema de exportação coercitiva de mão de obra cubana por meio do programa. Governo Dilma repassou bilhões para Cuba pelo Mais Médicos, e está aí o epílogo que Donald Trump busca nesta seara, responsabilizar Brasil por trabalho homólogo a escravidão e coerção.
Familiares do ministro Alexandre Padilha (Saúde) tiveram o visto aos Estados Unidos cancelado, segundo informou o próprio consulado do país em São Paulo aos parentes. A mulher e a filha de Padilha receberam comunicados dizendo que "surgiram informações de que o senhor pode estar inelegível para o visto". As pedras do tabuleiro caminham para envolver o Brasil em mais uma culpabilidade no patamar da questão dos direitos humanos. Os executivos sancionados são degraus para chegar ao ministro e à ex-presidenta. O programa Mais Médicos, lançado em 2013 para suprir a falta de médicos em regiões remotas do Brasil, acabou funcionando como um canal de financiamento para o regime cubano. Documentos mostram que entre 50% e 75% dos salários dos médicos cubanos eram enviados diretamente a Cuba. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) atuou como intermediária, conferindo uma aparência de legalidade ao acordo. Entre 2013 e 2017, cerca de R$ 13 bilhões foram gastos no programa, sendo aproximadamente R$ 7 bilhões repassados a Cuba. Médicos cubanos também denunciaram condições de trabalho abusivas e exploração, caracterizando trabalho análogo à escravidão. O objetivo é devastador se alcançar êxito, e mira asfixiar o Brasil em várias frentes, mas se mostra claro que a geopolítica está balizando os atos. Talvez o Brasil não possa se orgulhar com relação ao Mais Médicos. Segundo narrativa estadunidense, o alto escalão cubano podem ter ganho muito bilhões de dólares com a exploração de seus médicos em solo brasileiro, mas agora criticados e denunciados internacionalmente pelas violações de direitos humanos, pode levar um processo que tornem Cuba , Venezuela e Brasil uma pária em termos de trabalho análogo à escravidão. O expediente é eficiente porque se apresenta como política pública legítima, blindada contra críticas por seu verniz técnico e pelo apoio de organismos multilaterais, mas diante dos recursos esvaídos dos trabalhadores ,mostram outro caminho conclusivo. Uma análise aprofundada percebe esta intenção, duas questões são complicadas, a proibição destes trabalhadores trazerem a família e serem conduzidos pelo exército brasileiro na chegada ao Brasil, sem acesso aos jornalistas.
Depois do Equador, Argentina, Paraguai, os EUA vão ter dois candidatos de direita no segundo turno boliviano, o Chile se mostra improvável que a esquerda ganhe e na Colômbia , Gustavo Petro tem apenas 6% de aprovação. Falta o Brasil. Já que Peru é aliado dos EUA, e a Frente de esquerda(eleita) no Uruguai se mostra distante do governo brasileiro. A Venezuela é uma nação que está em default desde 2017, o salário mínimo é de 4 dólares e Nicolás Maduro é considerado chefe do Cartel do Soles com 50 milhões de dólares de prêmio para sua prisão, o país permite livre trajetos das drogas e 'quartéis' de traficantes nas terras de Simón Bolívar. Assim, nenhum presidente sul-americano o quer como aliado depois da fraude nas eleições de julho passado.
Em outra frente política, com a iminente renúncia do ministro Luiz Barroso, golpeado pelas sanções que atingem seu patrimônio e a vida de seus filhos nos EUA, o presidente Lula da Silva pode mudar planos para o governo de Minas Gerais .O nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a crescer nos últimos dias diante de uma aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso, de 67 anos, e apoio declarado do decano Gilmar Mendes. Ao mesmo tempo, o parlamentar é cotado para disputar o governo de Minas Gerais em 2026 com apoio do presidente Lula, e tenta reforçar a articulação do seu mandato com os prefeitos do interior.
Em mais política, acordo anunciado pela oposição com líderes de partidos do Centrão para avançar com pautas como a anistia aos presos de 8 de janeiro de 2023 e a PEC do fim do foro privilegiado pode impactar diretamente a agenda do presidente Lula da Silva no Congresso. O Palácio do Planalto teme que as propostas encampadas pela bancada do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, acabem esvaziando a agenda petista e antecipem o desembarque de partidos que hoje ocupam cargos na Esplanada dos Ministérios, mas que não garantem fidelidade ao Executivo. A expectativa da oposição é de que a aprovação do fim do foro seja o primeiro passo para viabilizar o avanço da anistia. "O compromisso firmado com a sociedade e com os líderes partidários é claro: o texto irá a voto até a próxima semana. Para tentar contornar a crise, Lula, com sua habilidade, tem procurado alguns integrantes de partidos como PSD, União Brasil, Republicanos e MDB. O receio maior é que, superadas estas votações, se acelere a debandada ministerial no governo. Conclusivamente, apesar de fatos que superficialmente estejam separados, é uma frente externa e interna para debilitar ainda mais uma candidatura resiliente de Lula em 2026.
*Túlio Ribeiro é economista, mestre em história e doutor em política estratégica.