China pode virar maior potência mundial passando EUA

Categoria: Mais Notícias Escrito por José Raimundo Feitosa

morar na china 1200x675Respeitando a tradicional lei econômica, a taxa de câmbio do yuan chinês é decidida pela oferta e procura do mercado, enquanto a sua tendência de fortalecimento a longo prazo permanecerá inalterada. Os fortes fundamentos econômicos de médio e longo prazo da China devem apoiar uma moeda firme, enquanto o superávit comercial contínuo também permite a entrada de capital, de acordo com o Economic Daily, administrado pelo Conselho de Estado da China.

"Ao contrário dos Estados Unidos e da União Europeia, que anteriormente haviam adotado políticas de flexibilização quantitativa de longo prazo, a inflação da China é relativamente baixa e o yuan tem espaço para apreciar", disse o documento. A moeda é imprevisível, pois "as volatilidades bidirecionais são normais e não haverá mercado unilateral", previu ainda em novembro de 2022.

A economia chinesa vem mostrando certas particularidades que a tornam única há anos. Embora seja verdade que suas expansões, bolhas ou recessões econômicas seguem padrões semelhantes aos ensinados nos livros didáticos de macroeconomia, há sempre uma tendência a usar o slogan "com particularidades chinesas". A China é diferente. Um bom exemplo é o que está acontecendo com a taxa de câmbio do yuan, que vem mostrando enorme força nos últimos meses, apesar da crise imobiliária e energética que o "gigante asiático" está vivendo. Um mistério que pode ser resolvido se analisarmos a conta corrente e o balanço financeiro do país.

Durante anos, o Banco Popular da China (PBOC) e sua vasta "coleção" de reservas (mais de US$ 3 trilhões) controlaram a taxa de câmbio do yuan para acomodar as necessidades da economia. No entanto, há algum tempo, o PBOC vem permitindo que o yuan flutue ainda mais. Há alguns anos, os movimentos eram escassos e o gráfico da passagem do yuan em relação ao dólar era quase estável. Agora há algum movimento.

Além disso, há alguns dias o banco central divulgou um comunicado alertando que a volatilidade da moeda chinesa pode aumentar no futuro à medida que os bancos centrais estrangeiros ajustarem suas políticas (aumento de juros e redução de compras de títulos). "No futuro, a taxa de câmbio do renminbi (yuan) pode se valorizar ou se depreciar", disse o comunicado.

A formação das sociedades de base industrial constitui complexo processo, cuja compreensão requer uma análise simultânea da penetração do progresso tecnológico nos sistemas de produção e como estruturas sociais e instituições receberam esta penetração, isso é um retrato da evolução chinesa. O substancial superávit comercial da China e o aumento da competitividade estão pressionando o yuan a se apreciar, o que ajudaria a incentivar o consumo e desencorajaria o excesso de capacidade. Embora Pequim possa estar relutante em deixar o renminbi(yuan) se valorizar em uma economia lenta, um valor de renminbi mais realista de fato ajudaria a China a reduzir sua oscilação estrutural e aumentar a estabilidade global pela razão de não ocorrer sobre saltos no mercado internacional. Neste contexto, o superávit comercial da China ficou acima de US$ 800 bilhões, ou 4,5% do PIB, no ano passado, acima dos 3,2% do Japão em 1985, na época do Acordo de Plaza. Semelhante à economia do Japão em 1985, uma alta taxa de poupança e o aumento da competitividade estão impulsionando o superávit da China.

"Ainda pode-se trabalhar que o montante seja ainda maior. A substituição de importações – de semicondutores a jatos comerciais – e o fortalecimento das exportações de carros e tecnologia de energia renovável podem dobrar o superávit comercial da China. Quando uma economia tão grande como a da China tem um superávit comercial estrutural superior a 10% do Produto Interno Bruto, a economia global será instável". Assim aborda o economista André Xie.

Mirando a infraestrutura, taxa de urbanização e níveis de educação, nutrição e expectativa de vida, a China já é uma economia desenvolvida. Mas seu PIB per capita nominal é cerca de um sexto do dos EUA e um terço do da Europa e do Japão devido a massa populacional. Uma moeda barata é a razão. O PIB nominal da China foi um terço menor do que o dos EUA no ano passado.

O conhecimento dos mecanismos sobre os mecanismos econômicos evoluiu consideravelmente. Segundo o Fundo Monetário Internacional, afirma que a economia da China é um quarto maior do que a dos EUA em paridade de poder de compra. Pelos meus cálculos aproximados, a economia da China é duas vezes maior que a dos EUA em paridade de preços. O modelo de desenvolvimento da China levou ao caminho da moeda sempre barata. O valor da moeda chinesa em relação ao dólar permaneceu praticamente o mesmo em termos reais nas últimas três décadas. O motivo é que as empresas chinesas têm feito peças e produtos para empresas globais. Como as empresas multinacionais colocam os fornecedores chineses uns contra os outros, a economia chinesa não tem poder de precificação.

A realidade mostra que à medida que o Ocidente busca a dissociação ou desvinculação de riscos e um embargo tecnológico, as empresas chinesas foram forçadas a se tornar independentes. Depois de cinco anos tentando, a economia já está diferente. A China está a caminho de ter sua própria Toyota, sua própria TSMC, sua própria Apple e assim por diante. A implicação para a taxa de câmbio é óbvia. Deve subir para refletir o maior nível de competitividade e poder de preços da China. Assim a valorização do renminbi pode aliviar as tensões comerciais. Quando um produto é 100% fabricado na China, seu preço reflete a renda per capita da China. A diferença de custos entre a China e o Ocidente é tão grande que a reação política maciça sobre as exportações chinesas é inevitável. Quando o yuan começa a apreciar, pelo menos dá alguma esperança ao outro lado.

Segundo relata Xie,quando o Plaza Accord de 1985 aconteceu, a bolha do Japão estava a todo vapor. Não precisou se preocupar com a economia doméstica quando o iene dobrou em relação ao dólar. De fato, a revalorização cambial incentivou a retenção de dinheiro em ienes, o que turbinava a bolha. Isso acabou levando ao colapso uma década depois.

A bolha da China já está deflacionando, e a valorização cambial não vai reanimá-la. Pode preocupar Pequim que alguma perda de competitividade adicione dificuldades a uma economia enfraquecida por uma bolha imobiliária deflacionada, mas na realidade é improvável que isso aconteça. Quando uma economia se torna mais competitiva, a valorização cambial permite que ela compartilhe os benefícios com o consumidor. É bom para o equilíbrio económico. E o aumento da competitividade pode compensar o aumento nominal dos custos de exportação. Se a moeda permanecer a mesma, a economia chinesa se torna mais dependente das exportações e o consumidor perde.

Ainda em 1985, os EUA pressionaram a Alemanha e o Japão a revalorizar sua moeda. Foi essencialmente uma desvalorização controlada do dólar em relação às moedas de outras economias industrializadas. Hoje, os EUA parecem menos preocupados com uma sobrevalorização do dólar. Uma moeda sobrevalorizada leva a déficits comerciais e fiscais estruturais, e o governo dos EUA está lidando com ambos tomando empréstimos maciços.

Apesar dos especialistas estadunidenses declaram que a China é a segunda maior economia do mundo. Os EUA talvez estejam relutantes em ver um realinhamento cambial que inverta o ranking, levando a potência ocidental para vice-liderança. Está essencialmente a gerir um esquema de dívida Ponzi para sustentar a sua classificação. Segundo Xie, a economia global está a caminho de uma crise econômica que pode ser pior do que a Grande Depressão dos anos 1930. A indexação do yuan ao dólar em um valor tão baixo corre o risco de alimentar as bolhas que levariam a um crash.Entretanto , de forma positiva , a bolha da China está se esvaziando antes que seja tarde demais. Mas a bolha dos EUA está ficando maior. À medida que suga economias de todo o mundo para sustentar sua bolha, sua ampliação e uma possibilidade de estouro empobreceria as pessoas em todo o mundo.

A crescente produtividade e a valorização do yuan podem ajudar a esvaziar a bolha dos EUA gradualmente. Num novo paradigma de cesta de moedas nas transações mundiais, as moedas de mercados emergentes devem subir em conjunto com o yuan, enquanto o euro e o iene podem subir pela metade. Pode-se dizer que a história de valorização do yuan é uma história de depreciação do dólar em substância. Isso reduzirá o poder de compra dos EUA e prejudicará sua demanda, e a economia global se tornará mais equilibrada.

Conclusivamente, um yuan mais forte é realmente bom para a economia mais moderada da China. À medida que sua economia amadurece e se torna mais competitiva quando precisar um novo movimento de disputa, contra os fortes ventos contrários dos últimos tempos, a China deve ter a confiança de deixar sua moeda refletir sua verdadeira força e além disso, ajudará a China a reduzir sua fraqueza estrutural enquanto aumenta a estabilidade global

Importante perceber que a China está praticando uma queda nas participações dos títulos do Tesouro dos EUA. Mas quanto isso prejudicaria o superávit comercial? Os Estados Unidos não podem pagar sua dívida externa. Só pagará quando puder emprestar mais. Não faz sentido estacionar as economias em um porto irreal. São tempos de transformações e observar a movimentação das moedas é mirar um retrato do que está acontecendo.

Por Tulio Ribeiro