Líderes da América do Sul se reúnem em Brasília por uma nova integração

Categoria: Mais Notícias Escrito por José Raimundo Feitosa

sulNunca foi fácil para nós sul-americanos a integração. Não por nossas diferenças, que são poucas, mas pelos neo-coloniais em tentar nos dividir, como a Inglaterra na tríplice fronteira e no desmembramento da Gran-Colômbia libertada por Simon Bolívar; na contemporaneidade o fomento a golpe vindos de países desenvolvidos contra governos soberanos e inclusivos como sofreu Evo Morales, Dilma Rousseff, Manuel Zelaya e Fernando Lugo. Mais recentemente as sanções impostas pelos EUA e União Europeia sobre algumas nações. Somos um continente de paz entre nações, a última guerra foi a do Chaco, no início do século passado, que foi um conflito travado entre Bolívia e Paraguai nos anos de 1932 a 1935, onde outros continentes vivem recorrentes conflitos.

Economicamente, a América Latina é a região com mais água doce no planeta: os sul-americanos Brasil, Colômbia e Peru estão entre os dez países com a maior quantidade de recursos hídricos. A nossa Amazônia é o pulmão do mundo, especialmente suprindo o norte e amenizando o efeito carbono. A começar pela Argentina e Brasil, alimentamos boa parte das nações industrializadas. A Venezuela tem a maior reserva de petróleo do planeta, a Bolívia é decisiva no gás. Além dos recursos naturais e metais, temos mais da metade ouro branco, o lítio, na Bolívia, Argentina e Chile. Apesar de tudo isso, temos nos falta saneamento, estrutura, industrialização, e o pior, a fome nos abate em boa parte da população. A integração é parte da solução em transformar um grande potencial em realidade de recursos, utilizando nossa sinergia e interação na nossa cadeia produtiva. Para isso precisamos de união para mudar o sistema de trocas injusto moldado pelo norte e desconstruir injustiças internas via distribuição de renda.

A integração dentro da difusão de regimes democráticos e soberanos, deve ampliar a cidadania, e a qualidade de vida da população, alcançar as metas de desenvolvimento econômico, responder aos desequilíbrios ambientais, coibir a corrupção e a violência, fomentar ações que visem a justiça, à verdade repare a os crimes contra humanidade cometidos pelos regimes autoritários e promovido por atos de nações endinheiradas na busca de extrair de forma vil e aviltada nossas riquezas. Neste conjunto a reunião em Brasília deve ser periódica e itinerante, não se muda um continente via apenas um país.

Coube ao anfitrião no discurso desta terça, Lula lembrar que ultimamente o Brasil “optou pelo isolamento do mundo e do seu entorno”, em referência à agenda diplomática do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).  O mandatário ainda abordou que não há tempo a perder, destacando que, nos próximos anos, países da América do Sul promoverão eventos como a reunião dos Brics, a Cúpula do G20 e a COP 30 (Brasil), além do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, no Peru. Neste contexto, apesar de consenso ser detalhado em 120 dias pelos chanceleres para uma nova reunião provavelmente em outro país. Assumiu ter como parâmetro o modelo da União Europeia, e a necessidade que as decisões sejam definidas pelos presidentes dos países, sem mudança no Congresso de cada nação, Lula lançou dez propostas que foram base para a carta final.

1)"Moeda comum": criação de uma "unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extrarregionais" e mecanismos de compensação mais eficientes. 

2)Economia: colocar a poupança regional a serviço do desenvolvimento econômico e social, mobilizando os bancos de desenvolvimento como a CAF, o Fonplata, o Banco do Sul e o BNDES.

3)Regulação: implementar iniciativas de convergência regulatória, facilitando trâmites e desburocratizando procedimentos de exportação e importação de bens.

4)Atualização da cooperação: ampliar os mecanismos de cooperação de última geração, que envolva serviços, investimentos, comércio eletrônico e política de concorrência.

5) Infraestrutura: atualizar a carteira de projetos do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN), reforçando a multimodalidade e priorizando propostas de alto impacto para a integração física e digital, especialmente nas regiões de fronteira.

6)Meio ambiente: desenvolver ações coordenadas para o enfrentamento da mudança do clima.

7)Saúde: reativar o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, a fim de permitir adotar medidas para ampliar a cobertura vacinal, fortalecer o complexo industrial da saúde na região e expandir o atendimento a populações carentes e povos indígenas.

8)Energia: lançar a discussão sobre a constituição de um mercado sul-americano de energia, que assegure o suprimento, a eficiência do uso dos recursos da região, a estabilidade jurídica, preços justos e a sustentabilidade social e ambiental.

9)Educação: criar programa de mobilidade regional para estudantes, pesquisadores e professores no ensino superior, algo que foi tão importante na consolidação da União Europeia.

10)Defesa: retomar a cooperação na área de defesa com vistas a dotar a região de maior capacidade de formação e treinamento, intercâmbio de experiências e conhecimentos em matéria de indústria militar, de doutrina e políticas de defesa.

Entre outros chefes do executivo, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou que a unidade regional deve ser uma política de Estado em cada um dos países sul-americanos. “Vamos aprender com os nossos erros, foi inútil estar tão dividido e o mundo encontrou-nos divididos no seu pior, e mostrando a sua pior face, à pandemia. Que não nos encontre novamente desunidos”, frisou. Durante seu discurso, ele também concordou com Lula que é preciso tornar "mais ágil" a operação da Unasul. "É claro que o sistema deve variar e que as decisões são tomadas mais por maioria do que por consenso, o que às vezes torna tudo muito difícil", afirmou.

Já o mandatário boliviano que desponta como nova liderança continental, Luis Arce, defendeu um mecanismo de concertação e diálogo que permita “projetar a região como uma força coletiva e coordenada num mundo multipolar”. Acrescentou ainda: “Este mecanismo deve aprender com as experiências passadas e através da complementaridade de nossos povos abranger questões nos campos social, econômico, ambiental e cultural”. Sobre a situação da Unasul, fragmentada após a saída de várias nações do fórum, Arce fez uma firme defesa de manter sua estrutura. “Pela experiência e pelo caminho percorrido, é mais fácil corrigir e mudar o que é necessário e pactuado em nossa Unasul, do que formar um novo arcabouço institucional que levaria anos e que não garante que atinja seu objetivo, por interesses em nossas riquezas naturais.", disse.

Outra nova liderança, Gustavo Petro da Colômbia, defendeu a construção de "uma voz unificada" da região latino-americana como mecanismo de defesa contra um panorama mundial, que considerou 'crítico'. “A América Latina tem em suas mãos, em seu próprio território, várias das soluções…

Por Tulio Ribeiro