O afastamento do juiz Eduardo Fernando Appio, da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Operação Lava Jato, é mais um capítulo da guerra de decisões conflitantes, travada nos últimos meses, com o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), sediado em Porto Alegre e que revisa seus atos em segunda instância.
A disputa se dá sobre o novo rumo que tomou o caso sob a condução de Appio. Para os críticos, o juiz estaria não só aprofundando o desmonte da operação, tentando anular condenações e provas, mas também buscando incriminar o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR) e o ex-procurador e atual deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR)
Antes e depois de assumir os processos, Appio tem manifestado publicamente contrariedade com as investigações da extinta força-tarefa do Ministério Público Federal, inclusive citando conversas privadas entre seus membros e de Dallagnol com Moro, obtidas e vazadas por hackers.
O maior embate de Appio, nesses meses iniciais à frente da Lava Jato, se deu com o desembargador Marcelo Malucelli, pivô do episódio que levou ao afastamento do juiz – Appio foi gravado, segundo o TRF4, tentando intimidar o filho de Malucelli, João Eduardo Barreto Malucelli. Numa ligação, teria se passado por um servidor do tribunal e dito que o pai teria créditos no imposto de renda. O contato foi feito após vazamento de dados pessoais do advogado nas redes sociais.
A conversa entre os dois teria ocorrido, ainda segundo o tribunal, no último 13 de abril. Na véspera, Malucelli havia determinado que Appio analisasse um dos vários pedidos de suspeição contra ele, apresentado pelo MPF. O juiz vinha ignorando tais pedidos e afirmava que suspeito era o próprio Malucelli, pelo fato de o filho do desembargador ser sócio de Moro e sua mulher, a deputada federal Rosângela Moro (União-PR), além de namorar a filha do casal.
Vários atos de Appio, que colocavam em xeque algumas decisões de Moro consideradas cruciais para a operação, foram derrubadas por Malucelli, que era relator da Lava Jato no TRF4.
Por Renan Ramalho