A força dos títulos de um país ou de sua moeda está ligada ao dinamismo econômico e à ampla comercialização internacional. Não apenas pelo conflito induzido entre a União Europeia através da Ucrânia contra Rússia, mas pela dificuldade de uma produção competitiva neste mundo globalizado, a região tem enfrentado uma debilidade em relação a sua histórica e recorrente liderança.
É neste contexto que a prática de se usar euro no sistema de pagamento internacional SWIFT para uma análise par mês de abril voltou a diminuir consecutivamente - de 32,6% para 31,7%. Pior, o percentual do euro nas operações de liquidações cambiais vem caindo há vários meses de forma recorrente e agora atingiu o mínimo nos últimos três anos. Devemos nesta análise abordar a crise e com certo declínio da confiança no dólar, a popularidade do euro só diminui. Mesmo com questionamento da dolarização em queda, o que está acontecendo é buscar qual é o motivo da incapacidade da moeda europeia de recuperar suas posições perdidas.
Sobre o dólar, atualmente os investidores estão cada vez mais preocupados com o risco de interromper os pagamentos da dívida do governo dos EUA. Em 19 de janeiro, o limite foi atingido. E recentemente, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse que os fundos de seu departamento podem acabar em 1º de junho. O questionamento é mensurar se há a possibilidade de inadimplência. Em curta mirada, a última vez que o limite da dívida nacional foi aumentado em US $2,5 trilhões, para US $31,4 trilhões, foi em dezembro de 2021. Mas já em janeiro de 2023, o “teto” foi atingido novamente. Isso significa que o governo pode gastar receitas fiscais ou emitir títulos do governo para saldar obrigações inadimplentes, mas não pode levantar dinheiro novo para financiar o déficit. Isto tornaria uma oportunidade para o euro que não se concretiza efetivamente.
Com a aproximação de 1º de junho, os mercados começam a mostrar sinais de turbulência. O prêmio do CDS de um ano, principal indicador do risco de inadimplência da dívida do governo americano, subiu de 15 pontos em janeiro para 150 pontos no início de maio, superando os níveis da crise de 2008, bem como a alta de 2011 ( então isso também se deveu ao aumento do limite do nível de endividamento). Os volumes de negociação para este instrumento também aumentaram significativamente. No entanto, os CDS de um ano sobre dívida soberana dos EUA ainda estão sendo negociados significativamente mais altos do que instrumentos similares na Itália (40 pontos), Grécia (25 pontos) e Reino Unido (15 pontos).
Existe uma problemática de um varejo político que suplanta o financeiro, já que é necessário um compromisso entre os dois partidos políticos no Congresso estadunidense para aumentar a dívida nacional. Entrementes, mesmo que as recorrentes contradições entre republicanos e democratas, os riscos de que o acordo não seja concluído a tempo aumentaram significativamente. O paradigma normal é que as contradições são causadas não pelo atual nível de gastos, mas pelas diferenças nas visões dos partidos sobre a dinâmica de longo prazo do déficit orçamentário. Os republicanos têm sido historicamente a favor de reduzi-lo, enquanto os democratas não são lucrativos para cortar gastos por causa da próxima eleição presidencial.
Mesmo com esta instabilidade estadunidense, temporária, o domínio ou uma possível ascendência ficou mais distante ou perdido. O pico da popularidade do euro em acordos internacionais dentro do SWIFT ocorreu na virada dos anos 2000 e 2010. Em 2012, a moeda única da UE forneceu até 45% das transações, contra menos de 30% do dólar. No entanto, a crise da dívida europeia abalou essas posições e, em meados da década de 2010, o euro já ocupava 30% das liquidações ou até menos. Desde então, com exceção de um breve surto em 2021, o dólar tem sido um líder sólido no volume de transações SWIFT.
Em 2022, a abrangência do dólar foi testada desde a imposição de sanções contra a Rússia, incluindo até o congelamento de contas. Entretanto, mesmo assim, não refletiu efetivamente negativamente muito a reputação da moeda estadunidense no SWIFT: a participação do dólar nos cálculos cresceu um pouco. Mas o euro começou a perder terreno e acabou voltando ao pior desempenho desde 2020. Nesta contemporaneidade é o yuan que começou a ganhar popularidade gradualmente, e agora está em quinto lugar entre todas as moedas usadas no sistema. Devemos lembrar que, se os EUA financiam, são os europeus que sofrem com fornecimento de energia e alimentos, mas no final são os ucranianos que morrem, como agora com a perda final de Bakhmut para os russos.
Uma questão a se inserir, até pela sanções, é que embora a SWIFT domine os pagamentos transfronteiriços, nem todo o comércio global é pago neste sistema. Por exemplo, a Rússia usa vários esquemas para contornar o SWIFT, já que muitos bancos importantes estão desconectados do sistema. A China, por sua vez, está desenvolvendo seu próprio sistema de compensação CIPS, através do qual passam anualmente mais de US $11 trilhões em transações. Nesta continuação desta inércia, a posição do euro no SWIFT será ainda mais fraca se o comércio dentro da UE e da zona do euro for excluído. Por que o euro continua perdendo popularidade e cedendo ao dólar uma parte cada vez maior do sistema comercial mundial?
“A queda na participação do euro pode ser devido à queda nos acordos comerciais entre a Europa e a Rússia, e é provável uma nova redução no uso da moeda europeia nos acordos”, explicou para mídia Evgeny Kalyanov, especialista no mercado de ações. na BCS Mir Investments. - Para os demais participantes de transações cambiais internacionais, o euro pode não ser mais atrativo que o dólar, já que a UE, assim como os Estados Unidos, utiliza sua moeda nacional como alavanca política de pressão geopolítica. Para a mesma mídia europeia, segundo Alexander Potavin, analista do Finam, o motivo da queda da participação do euro nas liquidações internacionais pode ser encontrado nos temores de uma crise bancária na UE devido a problemas com o suíço Credit Suisse, que foi absorvido pelo grupo UBS.
"Em nossa opinião, a diminuição da procura de liquidação em euros deve-se ao facto de a Europa se ter encontrado, no último ano, no epicentro da mais grave crise energética das últimas décadas, bem como dos acontecimentos militares na Ucrânia e do confronto com a Federação Russa, o que piorou temporariamente a situação da economia local", avaliou o especialista.
Mesmo com seus problemas, o domínio da moeda estadunidense se deve principalmente ao escopo mais amplo do comércio exterior dos EUA com vários países em comparação com a zona do euro. E também com a prevalência do dólar nas operações que visam reservas de valores ou poupança nacional. cabe lembrar que o conflito na Europa debilita sua economia e confiança no futuro. "O dólar representa cerca de 60% das reservas internacionais e 40% do comércio mundial. Euro - a segunda moeda mais importante - ocupa 21% e 16%, respectivamente" . Declarou o analista financeiro Mark Goykhman. Devemos destacar que os riscos da crise bancária nos EUA, que podem afetar a preferência pelo euro, afetaram os bancos de menor porte. Mas na Europa, a crise afetou um banco muito significativo, o Credit Suisse Group AG. Além disso, o dólar tradicionalmente atua como um "ativo defensivo" que é procurado em caso de perigos de cataclismos políticos e econômicos. Portanto, mesmo os riscos de crises, desacelerações econômicas no mundo impedem o aumento do uso não do dólar, mas sim do euro”, comentou Goikhman.
A moeda europeia está sob pressão de dois lados ao mesmo tempo - devido à crise energética e à política financeira do BCE. Depois de uma desdolarização com cesta de moedas, conclusivamente o yuan chinês poderia algum dia se tornar um substituto para dólares estadunidenses ou euros em acordos internacionais, mas esta não é, atualmente, uma moeda totalmente conversível, que tem seus próprios riscos específicos. Existe um vasto caminho para o crescimento do yuan, já que, mesmo levando em consideração o fato de que a economia chinesa se tornou a segunda maior do mundo caminhando para a liderança, o yuan representa apenas 2,29% de todos os pagamentos por meio do sistema de liquidação SWIFT.
Por Tulio Ribeiro