A Índia já tem 1,4 bilhões de pessoas e deve superar a China ainda este ano como a nação mais populosa do planeta. Segundo previsão do 'Fundo de População das Nações Unidas(UNFPA)' a China deve fechar o ano com 1,425 bilhão e os indianos devem alcançar 1,428 bilhão. Este processo vem em paralelo com a queda da população chinesa, a primeira inversão desde 1961. Há uma preocupação que o envelhecimento chinês afete sua produtividade.
Corrobora com este processo de crescimento o fato que o país se tornou a quinta maior do mundo. Segundo o Fundo Monetário Internacional a taxa de crescimento do PIB deve ser neste ano 5,95 % e em 2024 chegar à 6,3%; bem maior que a média mundial que o FMI prevê 2,8% em 2023 com 3% para próximo ano. O novo protagonismo indiano pode ser exemplificado quando ela assumiu em 2022 a presidência do G20 anunciando que queria liderar os países em desenvolvimento:" A presidência da Índia trabalhará para promover um senso unidade universal, por isso nosso tema 'Uma terra, Uma Família, Um Futuro,' afirmou o Narindra Modi, primeiro-ministro.
Mas longe de ser uma disputa, se a China, segunda potência do planeta, sofre com a restrições impostas pela política 'zero' do governo sobre a Covid-19 que a fez crescer apenas 3% , a menor desde 1976 sua média com 2,2%; a Índia tem dificuldade na geração de emprego , principalmente em relação à bons salários, que faz muitos jovens desistirem de procurar ocupação profissional. O Banco Mundial aponta que a taxa procura de emprego acima dos 15 anos de idade, em 2021, na Índia era de 46% enquanto que nos Estados Unidos chegava 61% e na China 68%. Portanto caso o governo não tenha êxito em gerar emprego paralelo a esta taxa de crescimento, existe a possibilidade de convulsão social. Há uma premissa que o alto desemprego no país é pela pouca qualificação da mão-de-obra, gerada por uma educação de baixa qualidade. Atualmente o governo desenvolve política de desenvolvimento de 'novas habilidades', mas que pode levar alguns anos para mostrar resultado.
A Índia tem conflitos internos maiores que a China, um problema geopolítico acirrado com o Paquistão e não possui um plano internacional estruturante econômico como a ' Rota da Seda". Politicamente tem uma prática de não interferir em crise em outros países, ao contrário dos Estados Unidos ou China, o que lhe posiciona como mais características de uma potência regional, sem o 'benefício' atualmente de disputas globais, como por exemplo desenvolvimento da indústria armamentista. Os indianos têm sua economia muito voltada para setor de serviços, que estão muito atrelados à bancos, indústrias e empresas internacionais. A grande maioria dos produtos são criados para o mercado interno, o que limitou sua absorção em mercados de outros países, ao contrário da China , com grande foco nas exportações e num mundo globalizado, inclusive em investimentos em larga escala em todos continentes.
Entretanto, não se pode relevar a força produtiva indiana e sua competência no setor que escolheu, de serviços. A Índia de forma estratégica se aproximou comercialmente da Rússia que lhe garante fornecimento de armamentos e segurança, construiu um patamar mais elevado de comércio com uso da aceitação da sua moeda nacional, principalmente uma reciprocidade com petróleo vindo da Rússia. A sua rúpia, o rublo russo e o yuan permitiram ganhos relevantes para sua economia na exportação de diamantes, óleos de petróleo, artigos de Joalheria (brutos), medicamentos e arroz.
O crescimento anual da população da Índia foi em média de 1,2% de 2011 até agora – em comparação com a média de 1,7% da década anterior, segundo dados do governo. Ou seja, também na Índia o crescimento populacional tem desacelerado, embora em ritmo mais lento do que na China.
Uma pesquisa pública feita pelo UNFPA para o relatório de 2023 apontou um senso comum na Índia – assim como no Brasil, no Egito e na Nigéria – de que a própria população "é muito grande e as taxas de fertilidade são muito altas".
"Os resultados da pesquisa indiana sugerem que as ansiedades da população se infiltraram em grandes porções do público em geral", afirmou Andrea Wojnar, representante do UNFPA na Índia, em comunicado que continuou. "No entanto, os números da população não deveriam desencadear ansiedade ou criar alarme. Em vez disso, eles devem ser vistos como um símbolo de progresso, desenvolvimento e aspirações, se os direitos e escolhas individuais forem respeitados", acrescentou.
A Índia fez muitas coisas certas no combate ao crescimento populacional, avalia Poonam Muttreja, da organização sem fins lucrativos Population Foundation of India, que promove a formulação e implementação eficaz de estratégias e políticas de população na Índia. "Ao mesmo tempo, precisamos garantir que meninas e mulheres não estão sendo forçadas a casamentos e gestações precoces, o que limita suas aspirações", disse ela em comunicado, o que coloca o país na mira das questões dos direitos humanos, também pela perseguição à muçulmanos e cristãos.
Importante salientar como visão global comparativa que o planeta ultrapassou a marca de 8 bilhões de habitantes no ano passado, mas dois terços das pessoas vivem em contexto de baixa fertilidade. Segundo os dados demográficos do novo relatório, 6,769 bilhões de pessoas vivem nas regiões menos desenvolvidas do planeta e 1,276 bilhão estão nas regiões mais adiantadas em termos econômicos. Nos locais mais desenvolvidos, apenas 16% da população está na faixa etária entre 0 e 14 anos, enquanto a população com mais de 65 anos alcança 20% do total. Nas regiões menos adiantadas, por outro lado, 27% têm até 14 anos e 8% têm mais de 65 anos.
É neste paradigma que a Índia com PIB de 3,176 trilhões de dólares (2021) como a China com PIB de 17,73 trilhões de dólares (2021) segundo Banco Mundial, possuem um caminho para traçar em relação as desigualdades e isso se agiganta com uma população especialmente elevada. Entrementes, guardadas as características de cada um, a multipolaridade cresce com mais uma potência mundial como a Índia num futuro próximo.
Por Tulio Ribeiro