Brasil se impõe e quer muitas medalhas

Categoria: Esporte Escrito por José Raimundo Feitosa

querO que é ser uma potência no esporte olímpico? No Brasil, significa estar entre os dez países que mais subiram ao pódio nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que começam nesta sexta-feira. Não é só o fato de o país estar abrigando pela primeira vez o evento: é uma imposição de resultados inédita para os atletas que nasceram por aqui.

A projeção do COB (Comitê Olímpico do Brasil (COB) para sua delegação que começa a competir no sábado está nesse intervalo. Envolve resultados expressivos em 15 modalidades – pelo menos cinco delas devem subir ao pódio pela primeira vez na história olímpica.

“Como é desenhada essa tabela: tem os três inatingíveis, que são Rússia, China e Estados Unidos, com mais de 80 ou 100 medalhas. Do quarto ao oitavo são sempre os mesmos há 20 anos: Reino Unido, França, Austrália, Japão e Alemanha. O nono e o décimo, nos últimos três Jogos Olímpicos, tiveram 27 ou 28 medalhas. Por isso, tínhamos como referência um número perto de 30. A tendência nos últimos quatro anos foi essa turma de cima, os oito, ganhar um pouquinho mais de medalhas e mais gente de baixo aparecer. Países novos subiram no quadro de medalhas. Se você olhar os mundiais dos últimos quatro anos e somar, quem ficou no top 10 teve entre 23 e 27 medalhas. Então existe a possibilidade de esse top 10 ser alguma coisa menor do que 27”, explica Marcus Vinícius Freire, diretor-executivo do COB.

É bom ressaltar que todas essas projeções são feitas com base no número total de medalhas, não no número de ouros. Mesmo sem exigir o resultado máximo, já é um objetivo ousado. O Brasil nunca ganhou 20 medalhas em Olimpíadas. O recorde foram as 17 dos Jogos de Londres, há quatro anos. Mais: o país só superou pela primeira vez os dois dígitos em 1996.

Para chegar a essa meta, a aposta é em velhos conhecidos. O judô fez três pódios em Londres-2012, é a modalidade recordista em medalhas olímpicas no país e, nos últimos quatro anos, teve duas campeãs e mais quatro atletas subindo ao pódio em Campeonatos Mundiais. O vôlei também: a seleção feminina é bicampeã olímpica e a masculina ficou entre os três melhores dos Jogos nas últimas três edições. Na praia, as quatro duplas, Alison/Bruno Schmidt e Evandro/Pedro Solberg no masculino e Larissa/Talita e Bárbara/Agatha, são candidatas a um lugar no pódio. Assim como o campeão olímpico Arthur Zanetti da ginástica, a seleção de futebol de Neymar & Cia. e o multicampeão Robert Scheidt da vela.

Mas existem também novatos. Isaquias Queiroz, da canoagem, estreia em Jogos Olímpicos com três títulos mundiais. A dupla Martine Grael e Kahena Kunze, da vela, liderou o ranking mundial, venceu os dois eventos teste na Baía de Guanabara e conquistou um título mundial nos últimos três anos. Ana Marcela Cunha, da maratona aquática, é dona de seis medalhas em Mundiais e foi eleita a melhor do mundo na modalidade em 2015.

E sempre existem as surpresas. Fernando Saraiva, do levantamento de peso, está entre os cinco ou seis melhores do planeta – e os dopings na Rússia tiraram alguns favoritos de sua categoria de peso. Aline Silva foi vice-campeã mundial na luta olímpica. Felipe Wu é líder do ranking mundial no tiro esportivo.

Essas opções, e muitas outras, foram moldadas desde 2009 com investimento farto. O governo federal nunca colocou tanto dinheiro no esporte de alto rendimento. Convênios, Lei de Incentivo, bolsas, Lei Piva ou patrocínios estatais, as torneiras estavam abertas para quem tivesse um plano olímpico palpável. Só o Bolsa Pódio, programa para bancar atletas brasileiros que estavam entre os melhores do mundo, nasceu com promessa de R$ 1 bilhão a serem repassados em quatro anos.

“Acho que nós demos para os 450 atletas brasileiros a melhor preparação para eles terem a possibilidade de registrar ali a melhor atuação da vida. Se isso vai acontecer ou não, aí depende do adversário, de como eles vão se comportar no dia. Mas a tranquilidade, isso eu tenho treinado. Quando acabar, se vocês tiverem feito 12º ou 15º lugar, se tiverem uma medalha a menos do que o esperado, cara, eu durmo tranquilo”, completa Marcus Vinícius.

Sabe aquela máxima sobre vizinhos "ame-os ou deixe-os"? Pois é, na Barra da Tijuca, mais precisamente em frente ao Parque Olímpico - local de competição de várias modalidades da Rio 2016 - a primeira opção tem sido a tônica da relação entre os moradores e sua nova vizinhança. Executivos e funcionários de grandes empresas, jornalistas, famílias de atletas e até mesmo turistas de todos os lugares do mundo trocaram os hotéis por locações de apartamentos na área.

Se os novos vizinhos comemoram a proximidade da instalação e uma certa privacidade, os antigos saudam o lucro e as benfeitorias conquistadas. De 100 a 300 dólares a diária por pessoa - dependendo do tamanho e da localização do imóvel - e em média quatro por apartamento e um aluguel no mínimo de cinco dias. Ou seja, a margem de lucro de um proprietário chega na pior das hipóteses de quase R$ 7 mil reais e pode beirar aos R$ 420 mil por dois meses.

O administrador de um condomínio, que preferiu não se identificar, contou ao UOL Esporte que a ocupação com os vizinhos olímpicos é de 30% dos seus dois prédios e uma percentagem que pode crescer ainda mais nos próximos dias. "Alguns moradores cresceram os olhos e agora estão correndo atrás. Até briga já teve porque um morador achou que eu estava tentando alugar outros apartamentos sem ser o dele. Uma loucura! Outros estão por conta própria e chegam oferecer o imóvel na porta" , garantiu. A reportagem foi abordada três vezes no intervalo de dez minutos enquanto caminhava pela Rua Aroazes, paralela à Avenida Embaixador Abelardo Bueno, via do Parque Olímpico.

Mas não são só os apartamentos que são alugados. As coberturas também são e para outros tipos de vizinhos: emissoras de televisão. Têm grupos dos Brasil, Estados Unidos, Coreia, China, Japão, México, Reino Unido, entre outros. Verdadeiros estúdios com direito à vista privilegiada e redações acopladas foram montados nos prédios de frente às arenas. Se o acesso é difícil para quem não é da equipe, pior mesmo é saber o valor da negociação.

Síndico do Edifício Villa Fiori, na Rua Aroazes, Ricardo Greco se esquivou sobre as cifras, mas entregou que o prédio todo recebeu benfeitorias, graças ao canal inglês INI TV . "Fizemos um contrato que previa também ganhos para todos os moradores. Agora estamos com sistema moderno contra incêndio e vazamento de gás em todos os apartamentos e áreas comuns. Também temos uma nova instalação de fibra ótica".

No edifício Origam, na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, ficam os estúdios da ABC News (Estados Unidos) ESPN Brasil, ESPN Deportes (México), apesar o entre e sai constante e da suspensão das atividades no salão de festas, os moradores não reclamam dos moradores temporários. "São pessoas educadas, sorriem nos elevadores e até existe uma promessa de que no final do trabalho o condomínio vai ser reformado e ter um up na área de lazer", entregou uma inquilina que preferiu não se identificar e completou. "Dizem que os proprietários receberam uma grana por fora. Não tenho certeza, mas desconfio que essa fofoca tenha um fundo de verdade porque pelo tamanho dessa infraestrutura toda rolou muita grana".

Além dos moradores, os comerciantes também estão vibrando com a chegada dos vizinhos olímpicos e toda a movimentação ao redor que proporcionaram um aumento no faturamento. Único supermercado da área registrou um crescimento de 60% nos últimos na última semana. "Volta meia tem uma fila grandinha nos caixas. Coisa que era difícil acontecer antes e a expectativa é ficar ainda mais cheio quando começar mesmo a competição"' assumiu a atendente Bianca Andrade, que fala inglês e por isso é responsável em ajudar os estrangeiros com informações.

Gerente adjunta da drogaria de 24 horas em frente ao Parque Olímpico, Maria Santos confirmou o ganho do dobro de clientes nos últimos dias. "Atendíamos de 100 a 150, agora são mais de 300 e tivemos que aumentar o número de funcionários", disse. Uma rede de churrascaria também aumentou sua equipe para atender hoje 700 pessoas por dia. Antes era em torno de 200.

De olho nesse mercado, William Song, proprietário do restaurante paulista coreano Sagunja abriu duas filiais só para os Jogos Olímpicos na Barra, um deles em um centro comercial em frente ao local de competições. O mesmo prédio que abriga no terraço um estúdio dividido entre três emissoras do país dos seus ancestrais. "Estou animado. Estamos servindo uns 100 pratos por dia e a expectativa é dobrar quando realmente começar a Olimpíada. Queremos lucro", brincou o bem humorado Song.

Fonte: Do UOL, no Rio de Janeiro